[RESENHA] Clara Nunes - A Tal Guerreira
- Raul Nunes
- 26 de set. de 2024
- 2 min de leitura
Foto: Priscila Prade
Confesso que cheguei ao teatro esperando uma enredo sobre a vida de Clara Nunes, um passeio pela biografia dela, talvez com uma dose de nostalgia. Mas, logo de cara, percebi que não era isso que me esperava.
O espetáculo “Clara Nunes – A Tal Guerreira” não se contenta em ser só uma biografia musical; ele mergulha fundo na espiritualidade, no sincretismo e na força das religiões de matriz africana.
Saí do teatro com a sensação de ter participado de um ritual.
Vanessa da Mata, que faz sua estreia no teatro e idealizou o musical, encara com sustância o baita desafio de interpretar Clara Nunes.
É claro que a performance ainda precisa de um polimento aqui e ali, porque foi sua estreia no teatro, mas Vanessa cumpre bem o que se propõe a fazer, com belíssimos vocais e muita elegância.
Deu pra sentir falta daquele tempero cênico? Deu. Mas acredito que isso só a vivência de palco traz. Apesar de tudo, ela conseguiu transmitir a personalidade e o ar de serenidade da Clara.
O musical, como um todo, é uma verdadeira aula sobre religiões afro-brasileiras. Exu, Iansã, Ogum, todos aparecem de forma poética.
A energia desses personagens é quase palpável, principalmente com a interpretação do Reynaldo Machado como Exu, que carrega uma presença de palco bizarra.
Reynaldo Machado como Exu Foto: Edgar Machado
A direção musical é um show à parte. Os batuques e a percussão trazem um impacto que ecoa no peito. Os arranjos fazem pulsar o congado mineiro, o samba e toda a brasilidade de Clara Nunes.
O cenário, todo branco, é singelo, mas poderoso. Num primeiro momento estranhei a falta de cores, mas logo percebi que fazia todo sentido. Foi uma escolha criativa que refletiu justamente a passagem espiritual da personagem.
Só algumas cores quebram o branco imaculado: o número final, com o azul da Portela, os figurinos de Vanessa, em momentos estratégicos, e o vestido preto da personagem de Bibi Ferreira, vivida pela talentosa Carol Costa.
Número de encerramento - Clara Nunes na Portela
Foto: Priscila Prade
Vanessa da Mata como Clara Nunes e Carol Costa como Bibi Ferreira
Foto: Priscila Prade
Aliás, a Carol traz um alívio cômico espirituoso e bem natural pros momentos em que interage com a protagonista.
Carol Costa como Bibi Ferreira/Claudina
Foto: Maria Clara Medeiros
Os figurinos do restante do elenco também enchem os olhos, com franjas e movimentos que retratam bem a estética das religiões afro-brasileiras.
Figurino assinado por Luiz Claudio Silva e Jorge Farjalla
Foto: Priscila Prade
Cara, e o que falar do coro? Tô aqui aplaudindo até agora. Eles constroem uma atmosfera quase mágica de vozes, preenchendo todos os espaços do teatro.
“Clara Nunes – A Tal Guerreira” é uma celebração da fé e da cultura brasileira, que me surpreendeu e mexeu bastante comigo.
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