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[RESENHA] Hairspray - O Musical

  • Foto do escritor: Raul Nunes
    Raul Nunes
  • 24 de set. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 26 de set. de 2024

Elenco de Hairspray Brasil 2024

Uma das coisas que eu mais amo nessa vida é sair do teatro com a bochecha doendo de tanto rir. E foi exatamente esse o efeito colateral que quase 3 horas de "Hairspray" causaram em mim.


Com uma nova montagem que acabou de vir do Rio pra SP, o musical se passa nos anos 60 e acompanha as peripécias de Tracy Turnblad, uma adolescente com sonhos tão volumosos quanto seu cabelo e o grande objetivo de dançar no The Corny Collins Show.


Mas as coisas não são tão simples: além de lidar com a gordofobia, Tracy ainda resolve bater de frente com o racismo da época e lutar pela integração racial no programa de TV. 


Contando assim parece pesado, mas o espetáculo consegue apresentar essa história com uma leveza surpreendente, sem perder a força da mensagem.


Logo de cara, o que me chamou a atenção foi a sinergia do elenco. Sinceramente, não tem ninguém que desaponte. É um show de sintonia cômica. 


Texto afiado e cheio de referências atuais, diálogos rápidos e coreografias frenéticas se combinam pra criar um ritmo que te pega pela mão e te leva junto. 


E por falar nisso, uma coisa que você não pode esperar de Hairspray é monotonia. 


Mas sabe o que é engraçado? Mesmo numa bagunça estridentemente colorida, nada fica confuso. Pelo contrário, tudo isso só deixa o espetáculo ainda mais empolgante. 


Eu juro que teve momentos em que eu não sabia pra onde olhar, de tanto que estava acontecendo no palco ao mesmo tempo. Um caos organizado.


Agora, os figurinos... Cara, um espetáculo à parte! Exageradamente exuberantes. Cada roupa conta uma história com muita cor e brilho. 


E as perucas, então, mereciam uma resenha só delas. Parece que saíram de um episódio de RuPaul’s Drag Race. São praticamente personagens por si só. 


No elenco, Tiago Abravanel como Edna Turnblad (mãe da Tracy) foi uma escolha acertadíssima. Eu tinha um pé atrás, confesso, porque a personagem é icônica e pode facilmente pender pro caricato, ,as ele trouxe um equilíbrio perfeito entre o humor ácido e debochado e o lado vulnerável dela.


Bem mais cativante que o Edson Celulari em 2010. Aliás, me arrisco a dizer que ele conseguiu fazer uma das melhores Ednas da história de Hairspray.

Tiago Abravanel como Edna Turnblad

Tiago Abravanel como Edna Turnblad


Lindsay Paulino foi outro que me deixou triplamente maravilhado. Isso porque ele não faz um, mas três personagens igualmente sensacionais. Sim, você piscou e ele já trocou de roupa, de peruca, de sotaque e de personalidade. 


Ele faz o Wilbur Turnblad, pai da Tracy; o diretor da escola, que adora mandá-la pra detenção; e o Mr. Pinky, dono da loja de roupas “Curvas Divinas” que patrocina mãe e filha no auge do sucesso. 


E bom, ele não só dá conta do recado, como faz a gente esquecer que é o mesmo ator em todos esses papéis.

Lindsay Paulino em seus três personagens no musical Hairspray

Lindsay Paulino em seus três personagens


Pâmela Rossini, que interpreta Penny, a melhor amiga da Tracy, é outro nome que não dá pra deixar de citar. Ela tem uma baita presença cômica e conseguiu transformar todas as suas entradas em um evento.


A construção da linguagem corporal da personagem é fantástica, só de olhar pros trejeitos dela já dá vontade de rir. 

Pâmela Rossini como Penny Pingleton

Pâmela Rossini como Penny Pingleton


Dentre os vários momentos memoráveis, tem dois que eu não posso deixar de trazer aqui.


O primeiro é o número musical "Bem-vinda à Era dos 60", quando a Edna (Tiago Abravanel) ganha um banho de loja patrocinado pelo Mr. Pinky. O teatro quase veio abaixo com a reação da galera quando ela surgiu repaginada, como se tivesse saído diretamente de uma sessão de transformação do Esquadrão da Moda. 



Outro ponto alto foi “Eu Sei de Onde Eu Vim”, interpretado pela Aline Cunha como Motormouth Maybelle. Sua voz arrebatadora e a mensagem de esperança em um futuro melhor renderam uma performance mega potente e emocionante. Merecidamente os aplausos mais longos da noite.



O espetáculo termina com “Não Vamos Parar”, quando Tracy finalmente consegue driblar as falcatruas da Velma pra se tornar a Miss Hairspray, amarrando a história que conseguiu manter o ritmo e a energia do primeiro ao último minuto. Final apoteótico.



E, por fim, uma das coisas mais legais foi a capacidade dessa montagem de se reinventar sem perder a essência.  


Adições sutis, como referências a memes (que show da Xuxa é esse?!) e a inclusão de um casal gay se beijando em cena, trouxeram o espetáculo de forma muito natural pra atualidade sem desrespeitar o original. 


Um musical redondinho que conseguiu unir humor, crítica social e um elenco afiado que não deixa a peteca cair em nenhum momento. Hairspray é uma festa pros olhos e pra alma.

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